Depois de ir a cinco cinemas em dois dias diferentes, finalmente consegui assistir ao filme mais esperado do ano. Juntei-me a uma multidão que sacrificou o tempo e o dinheiro do feriado nesse compromisso quase que obrigatório, e fui ver Vingadores cheia de expectativas, mas temerosa por um fracasso. Seria fácil derrubar uma superprodução como essa sob o peso de tantos personagens lendários, (re)construídos ao longo de décadas no imaginário popular. E dar a liga a tanta história num só longa é missão quase impossível. Depois que o público viu tantos outros fracassarem em tarefas que pareciam bem mais simples (Homem Aranha, Lanterna Verde, Superman), fiquei um pouquinho na beirada da cadeira, evitando confiar na promessa de que iríamos presenciar o ápice de uma jornada cinematográfica histórica.
Não vou dizer que o longa foi tudo o que prometia, mas admito que chegou bastante perto. A equipe de produção aprendeu com os erros de filmes anteriores (Thor) e repetiu acertos de sucessos (Homem de Ferro) para garantir ao menos o caixa que pagaria pelo espetáculo pirotécnico de duas horas e meia construído em cromaqui e computação gráfica. O destaque inevitável do personagem de Robert Downey Jr., no entanto, chega a cansar. Por quase todo o longa esquecemos que o líder do grupo é o Capitão América, ridicularizado sob piadas que tentam superar com humor a cafonisse do herói, superado pelas décadas em que seus valores foram esquecidos enquanto ele descansava sob o gelo.
O deus nórdico também fica esquecido em meio a essa confusão heróica que tenta a) Dar espaço ao Homem de Ferro, b) Dar crédito ao militar que representa uma América já superada e c) Salvar a imagem de Hulk, arranhada por um fracasso de bilheteria e por um segundo roteiro que não conseguiu mais que a mediocridade na avaliação dos fãs. Thor, que deveria ter a chance de acertar as contas com o irmão adotado, não ganha essa oportunidade. A posição fica com o monstro verde e com Viúva Negra, que tenta justificar a que veio. As curvas da ruiva, aliás, ganham destaque forçado numa tentativa de equilibrar a mistura de testosterona do time super-heróico. Ficou também uma água na boca por mais ação de Nick Fury, ofuscado pela confusão dos mocinhos multicoloridos.
Embora Loki marque presença como um vilão mais respeitável que a maioria dos malvados dos outros longas da franquia (incluindo a própria participação no filme anterior), ele também passa meio apagado em meio aos egos inflados dos múltiplos protagonistas. Na falta de um antagonista melhor, metade do tempo em tela é dedicado a conflitos entre os próprios mocinhos, com pouca importância para o roteiro, mas criando um espetáculo para os fãs que há décadas comparam os poderes dos vingadores. Nessa brincadeira, Hulk sai vitorioso sem esforço. Ao fim, um espetáculo de efeitos especiais cheio de risadas fáceis e cenas que fazem o espectador vibrar regido pelo ritmo das cenas frenéticas e ininterruptas. Diversão fácil e mastigada, do jeito que a gente gosta num final de semana.